Quatro anos após o incêndio que destruiu grande parte do acervo e do edifício do Museu Nacional, a fachada principal da sede foi inteiramente restaurada e apresentada. A partir do dia 3 deste mês setembro, o museu conta com intensa programação cultural e o público poderá, pela primeira vez desde a tragédia, se aproximar do edifício. O cronograma de obras segue até 2027, quando a reforma deverá ser concluída e museu completamente reaberto.
A cerimônia de entrega da fachada contou com autoridades nacionais e representantes de entidades internacionais envolvidas na reconstrução do prédio histórico. “Isso demonstra que o Museu Nacional vive e vive graças a vocês, que de mãos dadas nos ajudam a reconstruir essa instituição. E, sublinhando que Museu Nacional pertence à sociedade brasileira e, sim, a sociedade brasileira deve participar da sua reconstrução”, enfatiza o diretor do museu, Alexander Kellner.
A reconstrução da fachada buscou conciliar tecnologia de ponta com técnicas artesanais para preservar ao máximo a estrutura local. As 30 esculturas centenárias de mármore carrara, por exemplo, que estavam no topo do Palácio de São Cristóvão, foram restauradas e passarão a compor as exposições do museu. No lugar delas foram posicionadas réplicas feitas a partir de tecnologia de impressão em 3D.
“Conseguimos apesar da pandemia. Não podemos esquecer que enfrentamos, todos nós, um momento muito difícil para a humanidade, mas conseguimos chegar até aqui para poder brindar o bicentenário da Independência e mostrar que Brasil pode acontecer, pode ser um país desenvolvido”, diz a reitora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Denise Pires de Carvalho, instituição da qual o Museu Nacional faz parte.
Ao todo, cerca de 200 profissionais trabalharam para restaurar a fachada frontal. Foi necessário consolidar alvenarias, restaurar esquadrias, ferragens, gradis, produzir 100 novas esquadrias, mantendo como referência as formas originais que existiam até setembro de 2018.
Até o momento, as lajes de cobertura foram concretadas e impermeabilizadas; e 50% da estrutura metálica e dos caibros foram instalados. Do total de atividades contratadas para restaurar fachadas, coberturas e esquadrias do bloco histórico do palácio, 70% já foram executadas. A obra nas fachadas e coberturas segue até fevereiro de 2023 e o orçamento total desta etapa é R$ 23,6 milhões.
Aberto ao público
A partir deste sábado (3), o público poderá se aproximar do prédio, pela primeira vez desde o incêndio de 2018. Para poder conferir a nova fachada, o público contará com a programação #MuseuNacionalVive no Bicentenário, com exposições temporárias, atividades educativas e apresentações culturais gratuitas. A programação completa está disponível no portal do projeto Museu Nacional Vive.
Bicentenário da Independência
A entrega da fachada marca o bicentenário da Independência do Brasil, no dia 7 de setembro. A data foi escolhida, entre outros motivos, pela importância que o prédio teve no período. Pouco antes da proclamação da Independência, no dia 2 de setembro de 1822, a princesa Leopoldina, casada com D. Pedro I, presidiu, enquanto o príncipe estava em viagem a São Paulo, reunião do Conselho de Estado que resultou na recomendação de que ele declarasse a independência do Brasil em relação a Portugal.
O local também foi importante em eventos posteriores, até que o Brasil se tonasse uma república, e deixasse de ser governado pela família real, em 1889. “Nesta casa aconteceu a primeira reunião da assembleia constituinte republicana. Então, o Museu Nacional faz parte da história e da transição do Brasil República e da transição do Brasil que deixa de ser um país colônia de exploração e passa a ser um país soberano e independente. E a soberania nacional depende de ciência, tecnologia e inovação”, explica Denise, que ressalta que o momento é de “reafirmar que não seremos um país verdadeiramente independente se não tivermos instituições fortes e instituições científicas fortes”.
O Museu Nacional foi criado por D. João VI, em 06 de junho de 1818 e inicialmente, sediado no Campo de Sant’Ana e serviu para atender aos interesses de promoção do progresso cultural e econômico do país. A construção, que completou 200 anos em 2018, localiza-se na Quinta da Boa Vista e é a mais antiga instituição científica do Brasil, reconhecida nacional e internacionalmente. O incêndio foi uma tragédia que chamou atenção do mundo todo.
Reconstrução
O cronograma da reconstrução do museu segue até 2027. O orçamento preliminar estimado é de R$ 380,5 milhões, sem considerar o acervo. Deste total, foram captados R$ 245,3 milhões, o que equivale a 64% da meta, sendo: R$ 124,8 milhões provenientes de recursos federais, via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Ministério da Educação (MEC) e Emendas Parlamentares; R$ 20 milhões de recursos estaduais, via Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj); e R$ 100,5 milhões de recursos da iniciativa privada, via Vale e Bradesco. Mais detalhes sobre a reconstrução estão disponíveis no portal do projeto Museu Nacional Vive.
Fonte: EBC